quinta-feira, 8 de julho de 2010

Apagão II - A missão

Eu gosto de sangue. É quente. Ruboriza. Gosto também de filmes com bastante sangue jorrando, no melhor estilo chuveirinho, igual ao Kill Bill. Nunca tive problemas em ver machucados, meus e dos outros.

Mas não gosto de tirar sangue. Exame de sangue, sabe?

Era bem pequena, minha mãe tinha me levado ao pediatra, e ele, zeloso, pediu um exame completo. Sangue, urina e fezes. Os dois últimos, beleza. Mas o de sangue... Foi a primeira notícia de faniquitos que tive. Esperneei, chorei, gritei, não deixei a pobre enfermeira apertar meu braço com aquela borrachinha, e minha mãe ali, tentando me segurar. Envergonhada pelo fiasco. Foi então, que, num momento de compaixão, ela pediu pra enfermeira deixar. Parar de tentar. Calei os gritos, mas as lágrimas ainda escorriam. E ela me levou pra casa. Fiquei mais tranquila. Parei de chorar. Finalmente alguém compreendia meu pavor de agulhas. Finalmente? Estava anoitecendo, hora das crianças tomarem banho, ela me pegou desprevenida. A bundinha limpa. Vulnerável. Me deu umas boas palmadas. Aprendi que não podia fazer aquele escândalo no laboratório. Aprendi a não envergonhá-la com meus caprichos. Aprendi que era dolorido, mas que precisava ser feito. Voltei no outro dia. O olhar de "engole o choro!" me reprovava. Chorei. Mas tiraram sangue do meu braço e colocaram naqueles vidrinhos.

Convivi bem esses anos todos com os exames, nem tão frequentes, verdade, mas sempre fiz. E passei a me comportar. Não choro mais. Mas também não olho a agulha. Viro o rosto. Tranco a respiração. Espero pelo momento do algodão com o esparadrapo. Quando a enfermeira fala "pronto" (o "nem doeu" elas pararam de falar a medida em que fui crescendo).

Aí, tu, que me conhece, que sabe que tenho as orelhas com quatro furos cada, e o umbigo furado também, me pergunta: "tem medo de agulha mas tem piercing, como?". Eu explico. Não vi os furos das orelhas serem feitos. Doeu. Mas não vi. Já o do umbigo eu vi. E quase desmaiei. Ainda bem que minha mãe tava junto. E dessa vez eu nem fiz fiasco, né mãe?!

Eis que, mês passado, minha nutricionista pede novo exame. De sangue. Argumentei que já tinha feito. Ela retrucou, disse fazia mais de um ano. Assinei a requisição. 12 horas em jejum, fui, esperei minha vez, disse que o braço esquerdo não era bom, borrachinha apertada, olhos pra parede, a picadinha, a ardência, o algodão, o vidrinho sendo preenchido pelo líquido viscoso que saía da seringa, o esparadrapo... agradeci e já estava na porta, segurando a maçaneta, ou a maçaneta me segurando, quando não enxerguei mais nada. "Tu tá bem?". Duh! Sentei. Me abanaram. Deram água. Aquele ritual todo da cabeça abaixada... e blá blá blá. Passei vergonha sozinha. Ontem fui pegar o resultado. A enfermeira passou pela recepção, me deu uma olhadinha sem importância. Não deve lembrar. Ou lembra e não quis me deixar com mais vergonha.

Será trauma de infância? Vou quase desmaiar sempre que tiver que fazer exame de sangue? Será, pelamor da Nossa Senhora da Tecnologia, que não exista um jeito de fazer isso sem a agulha???

terça-feira, 6 de julho de 2010

De volta para o futuro


Exatamente hoje, Marty McFly chegava ao futuro.
Cadê meu skate voador??