Deixei ele lá, numa rua movimentada. Não coloquei som, película, nada. Não deu tempo ainda. É novinho.
Voltei feliz, tudo tinha sido maravilhoso. Mas não o reconheci. Olhei uns objetos em cima do banco. Não lembrava de ter deixado daquele jeito. Procurei outro pela rua. Em vão. Era ele. Revirado. Machucado. Com o vidro estilhaçado.
Congelei.
Não sabia o que fazer. Nem por onde começar. Almas caridosas me ajudaram a tirar os cacos dos bancos. "O carro novinho!", lamentava uma com as mãos na cabeça.
Emudeci.
Senti falta do meu casaco. Cinza. Novo. Lindo. E do casaco da outra, que andava na esquina atrás do flanelinha. Quer dizer. Do casaco da irmã dela.
Manual, documento, comprovante de depósito, um papel rabiscado, outro com um telefone anotado, chave de casa, papel da área azul, cartão de pedágio. Tudo bagunçado. Até o lixinho!
E eu ali. Calada. Sem reação.
Estouraram o vidro do meu carro por dois casacos. Não dá pra acreditar!
Perdi o tesão. Não quero mais. Me violaram. Violaram ele. Invadiram a minha privacidade. Reviraram as minhas coisas.
Fui mais uma vítima.